MESMO SE APROXIMANDO DE 20 ÓBITOS PELA COVID-19, LARANJAL DO JARI SEGUE EM ÚLTIMO NO ISOLAMENTO SOCIAL

93% da população laranjalense é favorável à ampliação de medidas restritivas no combate ao Coronavírus. No ranking de isolamento social dos municípios amapaenses, Laranjal segue em último com 47,9%.  

A depender do apoio popular, as autoridades de Laranjal do Jari não teriam dificuldade alguma para adotar protocolos mais rígidos quanto às medidas restritivas que visam impedir a proliferação do coronavírus. Esse suporte vindo da população de forma predominante pode ser constatado através do resultado de uma enquete realizada através da fanpage do Jornal Tribuna do Vale, na qual 93% dos participantes apoiaram medidas mais rígidas contra apenas 7% que preferem deixar as regras como estão.

Foi perguntado ao leitor se ele era a favor que sejam adotadas medidas mais restritivas à população de Laranjal do Jari com o objetivo de conter a expansão da Covid-19 pelos próximos dias, e dentre as medidas relacionamos o uso obrigatório de máscaras em todos espaços de uso coletivo (comércios, ruas, praças, etc) sob pena de multa e proibição de aglomeração desnecessária e que envolvam bebidas alcoólicas.

O apoio popular a medidas mais rígidas parece contraditório quando se compara o com o índice de isolamento real dos moradores, pois de acordo com o G1 Amapá, Laranjal do Jari tem o pior índice de isolamento social dentre os 16 municípios, que é de 47,9%. A situação melhorou um pouco, pois há uma semana era de apenas 37,2%. Serra do Navio, com 71,1%, tem a liderança no ranking de colaboração dos moradores amapaenses.    

Na prática, o município de Laranjal do Jari tem contribuído com quase metade do que as autoridades sanitárias afirmam ser necessário para reduzir as contaminações, que é de 70% de isolamento social.

Uma parte da população tem levado o assunto e a quarentena a sério, entretanto, há uma parte – embora cada vez menor – que ainda insiste em fazer reuniões com grandes grupos de pessoas, confraternizações e até aglomerações em espaços públicos. O cais de arrimo, do Sagrado Coração, por exemplo, tem se transformado num desses points nos últimos domingos.

Até a manhã de hoje, 12/05, Laranjal do Jari possui 180 pacientes confirmados com covid-19, sendo que 50 destes já foram recuperados. Outro número que assusta a cada dia é o de óbitos. O 3º maior município em população do Amapá ocupa o 2º lugar no número de mortes pela covid-19 com 12 casos confirmados e 5 em investigação. Ontem, faleceram mais 3 pacientes que ainda não entraram no boletim diário.

Para efeito de comparação, Laranjal do Jari tem uma população estimada pelo IBGE de 50.410 pessoas e 12 mortes pela covid. Santana, que é o 2º município mais populoso do Amapá, possui 121.364 habitantes e 10 vítimas fatais. 

A UPA (Unidade de Pronto-Atendimento) de Laranjal do Jari transformou-se no centro de referência para internações de pacientes com a covid-19. No início da semana passada os 16 leitos e os 4 respiradores mecânicos já estavam 100% ocupados. Houve caso de paciente em estado grave que para não morrer à míngua, foi transferido por via terrestre para Macapá, o que já comprova claramente que o sistema público de saúde local está em colapso. Aeronaves sem UTI não transportam pacientes com baixa saturação do oxigênio, pois representa um grande risco de morte durante o voo.

A situação não está pior porque há uma relação estreita e uma notória parceria entre a rede estadual e a municipal. Na semana passada, por exemplo, a UPA, que funciona sob a responsabilidade do Estado, iria ficar sem os medicamentos específicos para pacientes intubados, porém a prefeitura conseguiu fazer a aquisição dos produtos na véspera para que se mantivessem os internados vivos.  

Alguns estudiosos indicam que os municípios ou Estados devem implantar o lockdown  quando a localidade atingir 80% da sua capacidade de atendimento. Raquel Stucchi, integrante da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e professora da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), explica que o momento de se pensar em lockdown é quando há um aumento expressivo do número de casos e, consequentemente, de óbitos, e uma estrutura hospitalar insuficiente para atender à demanda.

É necessário o lockdown porque, na hora que se tira forçosamente as pessoas, obrigando a todas que fiquem em casa, há a diminuição da velocidade de transmissão; logo, a diminuição das pessoas que vão precisar de hospital”, afirma Stucchi.

Ela alerta, no entanto, que as autoridades e a população brasileiras precisam compreender que a medida não tem um efeito imediato. Isso porque, mesmo depois de duas semanas da implementação do lockdown, ainda irão aparecer novos casos de covid-19, uma vez que o diagnóstico pode acontecer até 15 dias após a contaminação.

Stucchi afirma que o isolamento social como tem sido praticado seria suficiente se a população respeitasse à risca a medida, o que não tem ocorrido. As taxas de isolamento que deveriam se manter entre 60% e 70%, em Laranjal do Jari demorou a atingir metade disso.

Mesmo que reconheçamos o esforço de alguns profissionais em prestar informações sobre os dados e estatísticas sobre a covid-19 no município, há alguns dados oficiais que não refletem a realidade nem de longe. Há estudos que apontam que para cada caso notificado (informado aos governos) existem cerca de 8 que permanecem desconhecidos, entretanto, esta diferença pode ser muito superior, a depender, por exemplo, da quantidade de testagem na população. Em algumas localidades a subnotificação pode alcançar a relação de 14 para cada caso oficializado.

Ivan Lopes e Cláudio Chaves
Redação do Tribuna do Vale e blog a Força da ideia



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