MP-AP E FORÇAS DE INTELIGÊNCIA E POLICIAIS DEFLAGRAM A OPERAÇÃO “CARTAS MARCADAS”. PREFEITO DE MAZAGÃO ESTÁ ENTRE OS ALVOS DA INVESTIGAÇÃO.
Postado
02/04/2024 10H42
Uma força tarefa
envolvendo o Ministério Público do Amapá (MP-AP), forças de inteligência e
policiais cumprem, na nesta terça-feira (2), oitenta e dois (82) mandados de
busca e apreensão expedidos pelo Tribunal de Justiça do Amapá, nos estados do
Amapá (Mazagão, Macapá e Santana), Pará (Belém e Ananindeua) e Bahia
(Salvador). A operação “Cartas Marcadas” investiga crimes de corrupção ativa e
passiva, fraude em licitações, lavagem de dinheiro e a, propriamente dita,
formação de organização criminosa, praticados entre os anos de 2020 e 2023.
Estão envolvidos
diretamente na operação, por delegação da Procuradoria-Geral de Justiça, o
Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) e do Núcleo de
Investigações (NIMP), com apoio do Gabinete Militar e de integrantes da Polícia
Federal (PF), Polícia Rodoviária Federal (PRF), Polícia Militar (PM) e Polícia
Civil (PC) no estado do Amapá. São mais de 350 homens e mulheres envolvidos na
operação, todos das forças de segurança do Amapá.
Nos estados do Pará e
Bahia, os mandados foram cumpridos com o apoio dos respectivos GAECO’s. A
deflagração da operação “Cartas Marcadas” é resultado de uma investigação
desenvolvida pelo NIMP e GAECO, em procedimento investigatório criminal
instaurado no âmbito da Procuradoria-Geral de Justiça com o objetivo de apurar
atos lesivos à administração pública do município de Mazagão.
De acordo com as
investigações, as ações criminosas resultaram na fraude em cerca de 100 (cem)
processos licitatórios e seus respectivos contratos, cujos serviços a serem
prestados movimentariam o montante superior a 150 milhões de reais. Segundo a
análise do Laboratório de Tecnologia contra Lavagem do Dinheiro do MP-AP, entre
os anos de 2020 e 2023, os investigados movimentaram, em suas contas bancárias,
cerca de 200 milhões de reais.
As investigações
apontam, ainda, o envolvimento direto do prefeito de Mazagão, que não só tinha
conhecimento da malversação do dinheiro do município, como ele próprio, alguns
familiares e amigos investidos em cargos de confiança, usufruíram de bens
móveis e imóveis adquiridos com os recursos públicos desviados.
A mencionada organização criminosa é
composta por mais de sessenta integrantes que se dividiam em quatro grupos:
1.De servidores públicos membros da
comissão permanente de licitação e de fiscais dos contratos;
2. De empresários
envolvidos nos crimes;
3. De repasse de valores
a juros; e
4. De lavagem do
dinheiro desviado.
Apurou-se que alguns dos
envolvidos atuaram, inicialmente, como servidores públicos em cargos de
confiança no “alto escalão municipal” e, posteriormente, abriram as próprias
empresas para participarem do esquema fraudulento e ilícito para desviar o
dinheiro público em diversas licitações.
O grupo investigado atuava seguinte
forma:
1. No núcleo dos
servidores da CPL e dos Fiscais dos Contratos eram realizadas as manobras para
direcionar os vencedores dos processos licitatórios, que eram tão-somente as
empresas dos investigados envolvidos no esquema;
2. O núcleo dos
empresários agia já depois do processo licitatório finalizado e o contrato
firmado com o Município. Essas empresas, geralmente de construção civil,
recebiam os valores estipulados nos contratos, mas não entregavam a maioria das
obras e, algumas vezes, ainda havia reiterados aditivos nos contratos, que
fazia aumentar mais o rombo ao Erário.
3. O núcleo de
repassasse de valores, com movimentação financeira mediante transferência de dinheiro a
juros, o que será melhor apurado no curso da instrução, era composto por
familiares do Prefeito, que “financiavam” as obras dos empresários que ganhavam
as licitações fraudadas. Em resumo, quando determinada empresa ganhava uma
licitação (já direcionada a ela previamente) e essa empresa não tinha
capacidade financeira para executar a obra objeto do contrato, tomava dinheiro
emprestado a juros dos integrantes desse núcleo e o empréstimo era pago com os
recursos desviados nos contratos.
4. Por fim, no núcleo da lavagem do
dinheiro, em que cada empresário favorecido nas licitações fraudadas tinha o
dever de transferir determinado percentual da vantagem ilícita aos integrantes
desse núcleo, em contas pré-determinadas, utilizadas apenas como intermediárias
para passagem do dinheiro, não sendo os seus titulares, os destinatários finais
dos recursos ilícitos.
Os investigados
responderão na medida das suas condutas e o processo tramitará no Tribunal de Justiça do
Amapá.
Categoria:POLÍTICA